15 de jan. de 2011

A tragédia do Rio de Janeiro Poderia ser Minimizada ou Até Mesmo Evitada

          Não precisava ser um vidente para prever a tregédia que aconteceu na Região Serrana do Rio de Janeiro nesta última semana. Eu já havia alertado para estas ocorrências em artigos anteriores. O Brasil não está preparado para responder rapidamente à ocorrência de desastres. Foram perdidas um pouco mais de 500 vidas, dentre elas a de 04 valorosos bombeiros, no cumprimento do seu dever de Vidas Alheias e Riquezas Salvar.

          Observa-se pelas imagens e relatos veiculados pela imprensa a completa desorientação estratégica e tática das equipes de resgate e salvamento atuando na região afetada. Existem vários órgãos no teatro de operações, mas nenhuma coordenação operacional das ações de resgate de corpos e salvamento e acolhimento de desabrigados. Não se vê pelas imagens e reportagens a implantação do Sistema de Comando de Incidentes - SCI - na região afetada. Os bombeiros, as forças armadas e as demais forças de segurança federais e do Estado do Rio de Janeiro não se comunicam ordenadamente e estão atuando de acordo com os seus protocolos operacionais internos, sem qualquer tipo de coordenação centralizada e hierarquizada.

          Os meios aéreos, pelo que é visto, são insuficientes dada a quantidade de comunidades isoladas, o sistema de saúde está operando com extrema dificuldade, a construção de vias de acesso de emergência para a ligação destas comunidades não estão sendo feitas, os sistemas de telefonia fixa e principalmente a celular não foram restabelecidos. Ainda falta ações emergenciais mais rápidas e efetivas de restabelecimento do fornecimento de energia e água, bem como uma ação governamental de abastecimento para garantia de suprimento de alimentos para as comunidades atingidas.

          Estou falando como um observador distante e que está longe do teatro de operações. Fala-se somente da defesa civil dos municípios afetados e do Estado do Rio de Janeiro atuando na localidade. Nem se ouviu falar de qualquer ação da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. Uma tragédia de tamanha proporção, não ouvi falar de oferta de ajuda de outras corporações de bombeiros para compor as equipes de resgate. Não se tem notícias dos grandes Corpos de Bombeiros que ofertaram ajuda ao Haiti atuando na localidade. Estas corporações ofereceram ajuda a estrangeiros mas até agora não ofereceram qualquer tipo de ajuda, com envio de contingentes de tropa para apoiarem os irmãos fluminenses nesta mega tragédia de proporções colossais.

          Os mecanismos desencadeadores da tragédia são perfeitamente conhecidos: ocupação irregular das encostas dos morros e das margens das calhas dos rios da região; falta de procedimentos de identificação e desocupação das áreas de risco; movimentação irresponsável de terra na base dos morros sem o taludeamento do terreno por parte dos ocupantes destas áreas de risco; cortes das encostas sem a construção de barreiras atirantadas ou muros de arrino; recuperação deficiente da cobertura vegetal das encostas e com espécies de plantas não nativas da mata atlântica, dentre outras ações que contribuíram para a ocorrência destes desastres.

          Não se tem conhecimento da existência de Planos de Emergência, de Contingência e de Auxílio Mútuo e outros para serem desencadeados em caso de cenários de tragédias deste tipo. Tampouco se tem conhecimento se existe estudos qualitativos e quantitativos de riscos e de vulnerabilidades da região atingida. 

          Cadê a ação da Defesa Civil Nacional e sua maravilhosa doutrina e sua atuação na coordenação das forças armadas, de segurança e voluntários na região datingida pelos desatres? Onde fica a operacionalização das fases do lindo ciclo de defesa civil (prevenção, assistência, socorro e reconstrução)?

          A culpa pelo desastre é de todos: da população que ocupa irregularmente as áreas de risco; é do Estado, na figura dos Governos Estadual e Municipais ao permitir a ocupação irregular, não desenvolvendo ações de coerção que visem a não ocupação das áreas de risco e a retirada compulsória das famílias alojadas nestas áreas. O Governo Estadual é culpado ao não desenvolver um sistema integrado de proteção civil mais pró-ativo que reativo e integrado, atuante mais na prevenção, não esquecendo da assistência e do socorro aos afetados.  

          A culpa também é do Governo Federal pois reagiu com lentidão à resposta ao desastre ocorrido, pois as forças armadas só chegaram ao local quando a tragédia já estava em estágio avançado de evolução. Onde está os Batalhões de Engenharia de Construção do Exército Brasileiro para atuarem na construção de pontes de campanha  para a ligação de áreas isoladas, restabelcimento das redes de comunicação e de abastecimento de água? Onde está a FAB com helicópteros e areronaves para transporte aeromédico e de alimentos às comunidades isoladas? O que a Força Nacional de Segurança Pública está fazendo no local? A maioria deles são policiais e não bombeiros, não estão preparados para atuarem neste tipo de cenário. O que 200 homens sem materiais e equipamentos pesados vão fazer naquele teatro de operações desolador e difícil de atuar? Só fazer número é querer atrapalhar as operações de socorro.

          A partir deste cenário caótico instalado na Região Serrana do Rio de Janeiro fico ainda mais convicto da necessidade da criação de uma Força Nacional de Bombeiros. Uma força altamente especializada e de pronto emprego, que tivesse um Estado-Maior-Operacional efetivo, que coordenasse com pulso firme as operações de resgate e socorro no teatro de operações, que coordenasse o fluxo de informações e comunicações entre as entidades que estão prestando socorrro às populações atingidas e com um sistema logístico efetivo e com grande capacidade de mobilização. Uma FNB bem estruturada e presente nestes  cenários a situação no local seria de ordem e coordenação efetiva dos meios disponibilizados.

         Vai precisar de morrer mais gente inocente para que o Governo Federal acorde, volte para a realidade e assuma a sua responsabilidade e crie a sua força de bombeiros? Só dinheiro disponibilizado para as comunidades atingidas não é suficiente. Quem e como será feita a reconstrução das áreas atingidas? Vai deixar esta tarefa unicamente na mão dos prefeitos? Caso isso ocorra duvido que a reconstrução seja feita.

          Será que o projeto de reconstrução contará com sistemas de contenção  de barreiras, preparação das calhas dos rios da região para suportar o fluxo de grandes volumes de água? Será que as famílias que habitam nas áreas de risco vão ser removidas para áreas mais seguras? Será que a população será preparada para atuar em situações de iminente ocorrência de desastres semelhantes no futuro? Será que as autoridades desenvolverão sistemas de alerta de desastres mais efetivos e que avisem com boa margem de antecedência a totalidade das populações que podem ser afetadas? Será que um Plano de Ação Mútua para casos de desastres do tipo que ocorreu na região nesta semana será elaborado? Não se sabe como e quando estas perguntas vão ser respondidas.

            Que Deus, O Eterno, nos abençoe, nos proteja e nos livre de todo o mal. Nele podemos confiar, pois Ele é nosso seguro contra desastres. No Estado, pelo contrário, quase nunca se pode confiar.              

2 comentários:

  1. Sempre poderiam ser evitadas mesmo.
    Não esqueçamos que somos brasileiros. Somos tolos, burros, votamos sempre nos mesmos safados. Vemos tudo acontecendo e ficamos calados. Mas também, gritar para quê, né?
    Deixem vidas se perderem mais.
    VIva o Brasil dos Vagabundos!

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  2. Outro dia a imprensa mostrou que há muitos anos essas tragédias no Rio de Janeiro se repetem. E cada vez mais violentas. Mas, infelizmente, as 'soluções' tomadas são apenas provisórias, um 'cala boca' para a população mais pobre que é a que mais sofre com isso. E os desastres se espalham pelo país. Em São Paulo, qualquer chuva transforma o centro da cidade num rio com correnteza. Em Pernambuco, cidades inteiras foram devastadas no ultimo inverno. E nada se faz. E a população brasileira tem memória curta, porque basta um bolsa-isso, programa-aquilo que todo mundo se esquece e acha que tem os melhores governantes da face da Terra. Deus nos ajude, realmente..
    Abraços
    ex-brasiliense saudosa

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